A Formiga e a Cigarra, nos tempos capitalistas

Era uma vez, uma cigarra que vivia cantando. Ela cantava e cantava, e dava vôos audaciosos pelo bosque.
Enquanto ela esbravejava pousada num esbelto ipê amarelo, as formigas lá em baixo trabalhavam feito loucas. Estavam estocando comida para o inverno, que vinha vindo.
Uma formiguinha desnutrida inconformada com a folga da cigarra, falou consigo mesma:

- Essa desgraçada ainda vai precisar da gente (inveja..hehe). Quero até ver quando o frio arrasador chegar. Toda vez é a mesma história, chega de ser boazinha! Dizia a formiga em tom de V ... é, V de Vingança.
As primeiras folhas começavam a oscilar nas árvores e caíam suavemente no solo ainda fértil.
Não demorou muito e o frio veio como um ladrão, sem aviso.
A neve caía lá fora e, as formigas entocadas estavam descansando, mas aquela magricela, estava apreensiva olhando para a porta.
- Porque você tanto olha pra essa porta? - perguntou umas das centenas de formigas (a toca era graaaande).
- Estou preocupada com nossa amiga cigarrinha. - disse ela em tom irônico.
Toc! toc! toc! - a magricela foi logo atender:
- Quem bate? - indagou já imaginando a resposta.
- Sou eu a cigarra.
A formiga abriu a portinha e disse desesperadamente:
- Quer comida é? Pois vá comprar!
- Hã..! Oo"? - assustou-se a cigarra.
- É isso mesmo. Num cantou o verão todo, pois agora dance sem música!
- Mas eu nem sei do que você tá falando. Eu só vim avisar que um empresário inglês me viu cantando durante o verão e me convidou para uma turnê na Europa. Já tô de contrato assinado e tudo. Ah.. então trouxe essa comida toda pra vocês já que não vou mais precisar, agora vou viver de champagne e caviar. Se aceitarem podem passar na minha casa, aliás, trouxe a chave pra vocês, pois imagino que esta toca já tá pequena demais pra tanta formiga. Um abraço pra todas vocês e juro que vou sentir saudades. Au Revoir!


Ah... a formiguinha coitada tá lá até hoje, carregando lata de concreto nas costas. Quem mandou não estudar!